O Papa Francisco morreu aos 88 anos. Jorge Mario Bergoglio, seu nome de batismo, faleceu às 2h35 pelo horário de Brasília, 7h35 pelo horário local, desta segunda-feira (21). As informações foram confirmadas pelo Vaticano. O pontífice ocupou o cargo máximo da Igreja Católica por 12 anos.
"O Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja. Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados. Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, recomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Trino", diz comunicado oficial.
Sua última aparição foi no domingo de Páscoa. Francisco não celebrou a Missa de Páscoa na praça no domingo (20), debilitado por conta da recuperação de uma pneumonia bilateral. Sua homília pascal foi lida pelo Cardeal Angelo Comastri, arcipreste aposentado da Basílica de São Pedro. Após o término da missa, Francisco apareceu na varanda da galeria sobre a entrada da basílica.
Primeiro papa das AméricasO argentino foi o primeiro papa nascido nas Américas e o primeiro jesuíta a assumir a liderança da Igreja Católica. Ele tinha sido internado no Hospital Gemelli, em Roma, na Itália, no dia 14 de fevereiro para tratar uma bronquite e foi diagnosticado com pneumonia bilateral. O funeral, de acordo com as normas, deve ocorrer entre quatro e seis dias, e em duas semanas os cardeais com menos de 80 anos devem se reunir no Vaticano para eleger o sucessor do Papa Francisco em uma votação secreta - o processo é chamado de conclave.
Bergoglio, o 266º papa da Igreja Católica, nasceu em Buenos Aires, filho de imigrantes italianos - seu pai, Mario Giuseppe, era funcionário de uma ferrovia, e sua mãe, Regina Maria, dona de casa. Mais velho de cinco filhos, ele fez escola técnica de química e ingressou na Companhia de Jesus em 1958. No ano anterior, perdera parte do pulmão direito após ter sido internado em consequência de uma epidemia de gripe e ter sido constado três cistos no lobo superior do pulmão.
" [Me disseram] que tinha sido necessário usar muita força. Por isso, quando me recuperei da anestesia, senti muita dor", contou em entrevista em 2019. Antes de abraçar a vida religiosa, Bergoglio teria sido apaixonado, quando criança, por uma menina que também morava na vizinhança de Flores - Amalia Damonte afirmou que quando eles tinham 12 anos, recebeu uma carta do futuro pontífice pedindo-a em casamento e que se ela não aceitasse, se tornaria padre.
A história nunca foi confirmada oficialmente, mas Bergoglio foi ordenado padre em 1969, após se formar em Filosofia e Teologia. Eleito superior provincial dos jesuítas, na Argentina, em 1973, foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires em 1992 pelo Papa João Paulo II; arcebispo coadjutor da cidade em 97, arcebispo metropolitano em 98 e cardeal em 2001. Na ocasião, pediu aos argentinos que não viajassem para Roma para comemorar o cardinalato, mas a doar dinheiro aos pobres.
Habemus PapaEm fevereiro de 2013, o Papa Benedito XVI abdicou do papado. Aos 85 anos ele justificou a decisão pelas exigências físicas e mentais do cargo e afirmou que continuaria a servir a igreja em uma vida de oração. O conclave, o processo no Vaticano pelo qual o sucessor é escolhido, durou apenas dois dias - os 113 cardeais fizeram cinco votações e em todas Bergoglio foi o mais votado . Quando a fumaça branca saiu da chaminé da Capela Sistina, a multidão que aguardava na Praça de São Pedro debaixo de chuva, festejou emocionada.
Diante de 150 mil pessoas de todas as partes do mundo, saudou os fiéis com uma brincadeira. "Sabeis que o dever do conclave era dar um bispo a Roma: parece que os meus irmãos cardeais foram buscá-lo quase ao fim do mundo", disse Francisco, que pediu que todos fizessem uma oração por Bento XVI e rezassem por ele mesmo antes de abençoar a fotos: "É a oração do povo, pedindo a Bênção para o seu Bispo".
Primeiro papa chamado Francisco ele contaria à imprensa dias depois, foi inspirado após o cardeal brasileiro Dom Claudio Hummes, ao ficar claro que o argentino seria eleito, tê-lo abraçado e dito "não se esqueça dos pobres". "Imediatamente, com relação aos pobres, pensei em São Francisco de Assis , depois pensei na guerra. Francisco amava a paz e foi assim que o nome veio a mim”, afirmou o papa, que lembrou ainda que São Francisco se preocupava com o meio ambiente e era um “homem pobre, um homem simples, como gostaríamos de uma igreja pobre, para os pobres”.
Preocupações sociais e atritos com ala mais conservadora da IgrejaConsiderado um papa progressista - ou pelo menos um liberal moderado -, Francisco enfrentou a oposição de setores mais conservadores da Igreja Católica, que não aceitavam atitudes como permitir que padres abençoassem casais do mesmo sexo - apesar de afirmar que a igreja só reconhece o casamento a partir do matrimônio entre um homem e uma mulher. Ele, que tinha se manifestado contra o projeto de lei contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo na Argentina, ao mesmo tempo disse que que pais e mães deveriam apoiar os filhos quando não forem heterossexuais e pediu desculpas ao usar um termo ofensivo à comunidade LGBT em italiano.
Contrário ao aborto, permitiu que os sacerdotes perdoassem a mulheres que tenham feito aborto - outra questão que, assim como relações homoafetivas, para a ala conservadora sequer deveriam estar sendo discutidas. O papa também se manifestou de forma incisiva contra o consumismo, se posicionou a favor do meio ambiente, criticou duramente guerras e o movimento neo-nacionalista no mundo inteiro e estabeleceu uma nova conduta da Igreja em relação ao combate de abusos sexuais, exigindo a responsabilização dos culpados e pedindo perdão às vítimas.
"A Igreja deve ter vergonha e pedir perdão. Tentar resolver esta situação com humildade cristã e fazer todo o possível para que não volte a acontecer", disse em visita à Bélgica em 2024. No ano anterior, tinha gravado um vídeo sobre o assunto. "Pedir perdão é necessário, mas não basta. Pedir perdão é bom para as vítimas, mas são elas que devem estar no centro de tudo", afirmou. "O que fazer para colocar as vítimas no centro? Suas dores, seus danos psicológicos podem começar a cicatrizar se encontrarem respostas; ações concretas para reparar os horrores que sofreram e evitar que se repitam", disse.
O passado polêmicoO papa enfrentou também as críticas de quem o considerava omisso ou conivente com o regime militar na Argentina, uma ditadura que durou de 1976 a 1983. Ele, que à época ainda era Jorge Bergoglio teria "retirado a proteção" da Igreja de Orlando Yorio e Francisco Jalics. Os dois eram padres jesuítas que trabalhavam com a população carente de Buenos Aires e foram sequestrados e torturados assim que o governo militar assumiu o poder.
As acusações contra o papa, denunciadas em livro, nunca foram provadas e ele conviveu depois com os dois sacerdotes. Em 2010, antes de ser eleito papa, Bergoglio testemunhou que teria se reunido com o ditador Jorge Videla e um dos comandantes da marinha para salvar Yorio e Jalics.
Além do caso dos dois sacerdotes, o papa também foi acusado de saber que a ditadura argentina sequestrava os filhos pequenos de militantes contra a ditadura, assim como mulheres grávidas - as crianças eram entregues a famílias de militares ou casais sem filhos envolvidos com o governo. Uma das grávidas sequestradas, era Elena de la Cuadra, cujo pai pediu ajuda a Bergoglio, em uma carta, para encontrá-la. O documento provaria que, ao contrário do que religioso dizia, não soube do que acontecia nas prisões apenas décadas depois.
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Fonte: Quem